No interior do estado de Santa Catarina, aqui no Oeste, onde está instalada a Hilê, era comum que, antigamente, as crianças começassem a trabalhar cedo para auxiliar no sustento da casa ou na manutenção da propriedade da família.
E é uma trajetória que iniciou assim que vamos contar agora no Histórias da Hilê. Tere, a protagonista de hoje, tem uma história inspiradora, carregada de superação e muita determinação para ultrapassar os obstáculos.
Se aconchegue na cadeira e acompanhe essa história inspiradora da nossa colaboradora Tere.
Teresinha Inês Moresco Perego é filha de Cecília e Anselmo Moresco (em memória) e ela é a mais velha dos cinco irmãos, sendo que são três mulheres e dois homens. Ela nasceu em Concórdia e um de seus maiores orgulhos é perceber que sua família sempre foi muito unida e humilde, sempre com um ajudando o outro quando havia alguma dificuldade.
Tere, seu filho e sua mãe
Apesar de ser natural de Concórdia, logo após seu nascimento a família se mudou para Xaxim. Depois disso moraram também em Lajeado Grande e Nova União, cidade em que a família trabalhava em uma olaria. A mudança para Xanxerê aconteceu quando o dono desse empreendimento decidiu mudar a fábrica para cá e a família de Tere também veio para trabalhar.
Assim como seus pais, na sua pré-adolescência Tere já começou a ajudar na olaria, na produção de telhas e tijolos. Ela conta que sempre teve vontade de ajudar a família e mesmo com as dificuldades ela seguiu firme.
“Minha infância foi boa, mas comecei a trabalhar cedo. Como eu era a mais velha dos irmãos, precisava ajudar meus pais e eu sempre quis trabalhar. No começo foi difícil, o serviço era pesado, mas depois fui ficando mais velha e quando se tem vontade as coisas fluem e dão certo” (Tere).
Ela trabalhou nessa olaria por cerca de 30 anos e durante esse período sua vida passou por diversas reviravoltas.
Fatos marcantes
Com 23 anos de idade ela se casou e foi morar na casa da sua sogra, onde permaneceu por dois anos até que o casal conseguiu construir sua casa própria. Com quatro anos de casados, o filho do casal nasceu, Fabio Antonio, e nesse momento Tere percebeu que a responsabilidade com seu filho seria maior do que qualquer outra coisa.
Fabio nasceu com um problema motor, sendo que os dois pés desenvolveram-se virados para dentro e, para reverter esse quadro, o tratamento seria longo. Diante disso ela decidiu deixar o emprego para se dedicar integralmente ao filho.
“Quando meu filho nasceu que vimos que ele estava com os pezinhos para dentro eu decidi parar de trabalhar para cuidar e dar toda a atenção que ele precisava. Ele já saiu do hospital com gesso nos pés, pois os médicos precisavam ver se assim conseguiam endireitar os pés dele. No início eu precisava levar ele até o hospital para trocar o gesso toda semana. Depois, de 15 em 15 dias e isso foi até ele completar um ano de idade. Ele teve uma evolução, mas precisou fazer uma cirurgia para terminar de corrigir os pés” (Tere).
Fabio quando bebê
Ela ficou exclusivamente cuidando do filho até ele completar três anos e meio, até ele ficar 100% recuperado. Nesse momento ela pode voltar a trabalhar tranquilamente, pois o filho estava bem.
“Deixei meu filho com a minha mãe para voltar a trabalhar que assim eu poderia ficar tranquila porque sabia que ele seria bem cuidado. Serei eternamente grata a minha mãe por ter me ajudado” (Tere).
Anos depois, quando Fabio já tinha seis anos de idade, Tere passou por um episódio marcante em sua vida, quando separou-se do marido e ficou sozinha com o filho pequeno. Apesar da dificuldade e da dor de ver o filho sofrendo com a falta do pai, que foi para outra cidade, ela não desanimou e seguiu de cabeça erguida para oferecer uma vida boa ao menino.
“Depois de um ano da minha separação, meu pai faleceu, foi muito difícil. Depois tive problema na tireoide, fiquei muito mal. Passava mal no trabalho, tinha muitos sintomas, até que fui consultar e o médico me encaminhou para um especialista. Emagreci 7kg no tempo que fiquei mal. Depois de 15 dias da consulta já estava bem e recuperada e consegui voltar a trabalhar” (Tere).
Superação e determinação
Como Tere começou a trabalhar muito nova, não terminou os estudos regulares. Então, após sua separação ela foi atrás para finalizar os estudos e ingressou na Educação de Jovens e Adultos, onde conseguiu concluir os estudos.
Tere na sala de aula
E levando sua vida como exemplo, ela sempre incentivou seu filho a seguir nos estudos. Após finalizar o ensino fundamental ele decidiu que gostaria de fazer o ensino médio no colégio agrícola e Tere não mediu esforços para que o filho pudesse ingressar no colégio, mesmo sabendo que seria difícil pelo fato de ser um estabelecimento particular.
“Sabia que não seria fácil, mas tinha uma ajuda da prefeitura para custear os estudos. Mas, quando a prefeitura não mandava o dinheiro, eu me apertava. A sorte é que a minha família, meus irmãos, sempre me ajudaram quando isso acontecia porque eu não podia deixar atrasar uma se não ia me apertar nas outras e não ia conseguir pagar” (Tere).
No colégio os professores explicaram aos alunos sobre a possibilidade de fazer um estágio nos Estados Unidos. Desde o primeiro ano Fabio falava sobre isso com a mãe, até que ele chegou no terceiro ano e a vontade de viver essa experiência ficou ainda mais forte.
Foi nesse momento que Tere percebeu que esse desejo do filho era genuíno e fez de tudo para conseguir que ele participasse desse programa de estágio no exterior. Ela pediu dinheiro emprestado e isso proporcionou ao jovem que, com 17 anos, embarcasse para os Estados Unidos, onde ficou por um ano e meio.
Fabio nos Estados Unidos
Não foi um período fácil que ela passou longe do filho, principalmente porque na época o único meio de comunicação mais rápido era por meio do telefone fixo. Mas esse é um dos períodos que Tere mais se orgulha da carreira de estudos do filho.
“A gente não pode segurar os filhos sempre embaixo das asas, criamos eles para o mundo. Às vezes se eu não deixasse ele ir, algum dia ele ia dizer ‘ah se a mãe tivesse me deixado ir…’ assim ele não pode dizer isso (risos). Hoje ele me agradece o tempo inteiro, diz que se ele é o que ele é hoje é porque eu incentivei, mas na verdade foi porque ele teve vontade, eu só facilitei as coisas, ajudei, ele se esforçou. Quando ele voltou, Nossa Senhora, que felicidade! O dia que ele embarcou foi mais difícil, ver o ônibus indo embora e saber que um ano e meio eu não ia ver ele. Mas quando voltou foi tanta felicidade. Depois que ele voltou, começou a trabalhar como técnico e começou a fazer agronomia, ajudei ele com a faculdade e a comprar um carro” (Tere).
Fabio em sua formatura
Fabio e a namorada
Tere e Fabio na formatura
História da Tere com a Hilê
A história da Tere com a Hilê começou em meados de 2007 e hoje já são cerca de 15 anos de história aqui dentro. Quando ela veio trabalhar na indústria, os processos ainda eram mais manuais e só chás eram fabricados. Nos dias em que havia menos trabalho no processo produtivo os colaboradores iam colher as ervas para o chá. Todos ajudavam em tudo.
O trabalho aqui na Hilê proporcionou a ela que, além de ajudar o filho a se tornar independente, também a reformar sua casa e deixar o ambiente ainda melhor e mais aconchegante.
Tere e o filho em uma confraternização da empresa
“Sou muito grata pela oportunidade que o Sandro me deu, serei grata pra sempre, amo aqui o meu trabalho, amo o que eu faço, gosto de fazer tudo bem certinho do meu jeito bem organizadinho, pode ter certeza que vou dar sempre o meu melhor” (Tere).
Ela sempre foi uma colaboradora exemplar, tanto aqui na Hilê como nas empresas em que trabalhou antes. Um episódio que deixa isso claro é que Tere sempre foi um exemplo de organização e pontualidade com seu cartão ponto. Tanto na empresa anterior como aqui na indústria ela foi apontada como exemplo a ser seguido nesse quesito.
“Eu gosto de tudo organizadinho, ajeitadinho daí a gente tinha o cartão ponto manual para bater na antiga empresa e um dia o patrão disse ‘Meu Deus como que o cartão da Tere é assim bonitinho tudo em ordem e dos outros não dá nem pra entender?!’ Tinha que regular entrada e saída de manhã e entrada e saída da tarde, daí às vezes eles iam bater e mexiam um pouquinho e eles batiam no outro, aí tentava arrumar e virava uma coisa. Aí fizeram uma reunião na frente do relógio e falaram ‘a Tere vai ensinar vocês como que bate o ponto’ mas eu chegava e olhava certinho pra bater. Aqui eu também ganhei um “prêmio” por bater o ponto sempre certinho, fiquei tão feliz. Sempre gostei de ser bem pontual e gosto de trabalhar aqui. Sempre digo, em primeiro lugar tem que ter vontade, quando eu comecei na olaria também era difícil, eu sofria mas eu sempre tive força de vontade” (Tere).
Tere e colegas do setor de chá
Tere e colegas na indústria
Outro exemplo claro da sua organização é a sua máquina no setor de chás aqui da indústria. Tere tem seu nome na máquina em que trabalha e quem mexer naquela máquina terá problemas com ela (risos). Ela conta que é gratificante saber que fez parte da evolução da indústria.
Tere é uma daquelas pessoas que contagia a todos ao seu redor pelo bom humor e ela conta que já acorda feliz e agradecendo. Segundo ela, sempre pensar positivo e para frente é o segredo de tamanha felicidade. Além disso, mesmo nas férias ela é daquelas pessoas que não tem sossego, não consegue ficar parada. Aos finais de semana ela sempre visita sua mãe, que mora perto de sua casa, pois, segundo ela, “sempre me dediquei pro trabalho e então não sei lidar muito com panelas”.
Agora, seu sonho é ser avó e seu maior desejo é que a criança tenha os mesmos valores que os pais a ensinaram e ela passou para o filho: “cuidar das coisas, ser honesta, ser positiva”.
Tere em confraternizações da empresa
Tere em confraternizações da empresa
Tere, é um prazer e um privilégio poder contar com uma pessoa como você no quadro de colaboradores da Hilê. Sua energia é contagiante e somos muito gratos pelos momentos vividos aqui!